segunda-feira, 25 de abril de 2011

DOCE LAR

CAPÍTULO QUATRO

MARCHAR PARA O CENTRO

A auto-satisfação interna, abstraindo-se a situação problemática do mundo atual, é uma posição valiosa.Ela está perto da zona da alma.Verdadeiro "bhakti", devoção, é "ahaituki", sem causa; é sua própria causa.É sem causa e por si mesmo. Como dito por Hegel, a realidade é por si mesma. A realidade não é uma coisa abstrata, ao contrário, realidade significa um sistema que existe por si mesmo. É "anadi" e "ahaituki", é eterno e nada pode produzi-lo. "Bhakti" é sua própria causa. Estas são as definições que têm sido dadas para nos ajudar a entender o que é "bhakti". Não é criado por nenhuma outra coisa, está ali eternamente, mas apenas se encontra coberto e deve ser revelado, descoberto. Se encontra ali em uma forma potencial. Porém, com ajuda externa, gradual e progressivamente aparecerá: se encontra como se estivesse dormindo, é necessário despertá-lo. "Anyabhilasa", "karma", "jñana", os desejos efêmeros e os esforços organizados, tanto para a exploração como para a renúncia ou indeferença são as cobertas. Devemos remover estas cobertas e então o "bhakti" emergirá com toda a sua pristina glória.
Ter afinidade e atração pela verdade superior é algo muito raro, especialmente nesta era moderna, em que a direção do pensamento está completamente voltada para a exploração, inclusive do conhecimento. O conhecimento também está a serviço da exploração e isto está causando danos. A energia atômica e muitos outros tipos de investigações científicas são causa de grande apreensão. O mundo está ameaçado de destruição e, a qualquer instante, tudo pode terminar. Este conhecimento é suicida. O progresso deste conhecimento no mundo resulta em suicídio. Exploração significa reação. Assim, se aceitarmos de forma geral e em grande escala a exploração, então o resultado será "pralaya, maha-pralaya", destruição em grande escala. De qualquer modo, seja pela bomba atômica ou por qualquer outro incidente natural, "pralaya" virá e depois disso, de novo a criação. Nascimento e morte, nascimento e morte. Cada individuo nascerá e morrerá novamente, e todo o sistema solar também nascerá e morrerá uma outra vez, sem fim.
Se queremos sair disso, devemos abandonar esta atmosfera experimentada por nossos sentidos. No Bhagavad-Gita e nos Upanisads esta alternativa também é mencionada, "indriyani parany ahur". Nossos sentidos assumem posição principal devido à vista, ao ouvido, ao olfato, ao tato, etc. Se eles são vão, então o mundo inteiro também se ausenta de nós. Porque possuímos sentidos, temos nosso mundo. No mundo da experiência, os sentidos são o mais importante. Logo, "indriyebhyah param manah", a mente está dentro. O que é a mente? É a faculdade que temos, que seleciona: "Eu quero isto, não quero aquilo". Temos atração por alguma coisa, rejeitamos outra. Este é o princípio da mente dentro de nós. Esta é mais importante que os sentidos, porque se estou desatento, uma pessoa pode passar à minha frente, mas é possível que eu diga: "Oh, não notei. Não o vi e não pude escutá-la. Estava desatento". Assim, a mente está no centro e é mais importante que nossos sentidos.
Os sentidos são mais importantes que o mundo externo e a mente é mais importante que os sentidos, pois se a mente não recebe, então os sentidos, que são semelhantes a muitas portas, são inúteis. Logo, "manasas tu para buddhir", existe outro princípio que deve ser definido dentro de nós, uma coisa sutil chamada razão, "buddhi", e qual é sua característica? A mente dirá: "Oh, pegarei isto", mas "buddhi" dirá: "Oh, não, não pegues isto, isto te causará dano. Ao contrário, pegues aquilo, aquilo o beneficiará". Esta faculdade se seleção, a razão, é um princípio superior em nós. Logo, "buddher yah paratas tu sah"; e superior à própria inteligência é a alma em si.
Desta forma devemos definir os elementos. Mais importante que o mundo externo são nossos sentidos; mais importante que nossos sentidos é nossa mente; acima da mente está a razão, a qual é ainda mais importante, mais sutil e mais confiável; e, "buddher yah paratas tu sah", há outra coisa acima de "buddhi", que é nossa alma. E qual é sua natureza, sua característica? É como a luz.
Nas Escrituras há um exemplo: em uma noite iluminada pela lua, pode haver uma nuvem no céu que a encubra, mas a nuvem é visível graças à luz da lua. O compilador dos Vedas, Vyasadeva, disse que o "atma" é como a lua iluminada. Ou como o sol: uma nuvem cobre o sol, mas ela é vista graças à luz do sol. Do mesmo modo, "atma" é um ponto de luz dentro de nós e em razão de estar ao fundo, podemos sentir nosso sistema mental. Se a luz se retira, então tudo morre. O sistema mental, a inteligência, a faculdade de discernir e todos os outros muitos canais através dos quais obtemos conhecimento do exterior, não têm valor se essa luz é retirada. Essa luz é "atma", um ponto de um raio de luz, e esta é categórica e completamente diferente de todas as outras coisas aqui. A alma é uma partícula de luz e há uma terra de luz cheia de almas e, deste modo, um desenvolvimento: do subjetivo para o super-subjetivo, da alma para a Superalma ou de "atma" para "Paramatma". Tal como neste mundo encontramos o éter, o ar, o calor, a água, a terra, em seguida a rocha, e desta forma há um desenvolvimento na existência material, do mesmo modo, no mais belo mundo também há desenvolvimento: da inteligência à alma, em seguida à Superalma, daí à Super-superalma... Desta forma o lado subjetivo marcha para o infinito. O super-subjetivo.
Darwin em sua teoria da evolução diz que todas as coisas provêm da matéria. Ele diz que ainda no ventre, no princípio, há algo material que se desenvolve e desse desenvolvimento da matéria o conhecimento também se desenvolve gradualmente. Em termos gerais, ele pensa que a consciência surge da matéria. Mas os seguidores da verdade não crêem nisso. Estes dizem que a consciência é tudo e todas as coisas estão flutuando no oceano da consciência. Isto é evolução subjetiva. Darwin falou da evolução objetiva, mas as Escrituras védicas dizem que tudo existe de acordo com a evolução subjetiva. Como o bispo Bishop Berkeley, um filósofo europeu disse: "A mente não está no mundo, o mundo que está na mente". Tudo está flutuando no plano da consciência. A consciência pressupõe tudo.
Os partidários de Darwin dizem que no começo estava o fóssil. Mas que é um fóssil? Um fóssil é uma concepção particular e isso é uma parte da consciência. Em consequência, sustentamos que a consciência é o sujeito original principal. Qualquer coisa que você possa dizer que estava no princípio, antes disso existia a consciência, de outra maneira não pode afirmar nada. Assim, a verdade védica declara que Brahman, o aspecto impersonal todo-penetrante do Absoluto, é a origem de todas as almas e por cima da alma, "atma", está a Superalma, ou "Paramatma". Nos mundos terrenos todo desenvolvimento está no lado obscuro, mas também há um lado brilhante: o mundo eterno, que existe com muitas atividades satisfatórias, muitas frequências no oceano da Suprema Bem-aventurança e júbilo.
Desta forma, devemos compreender qual deve ser nosso dever na vida, qual é a importância especial da vida humana e como devemos utilizá-la. Existem muitas opiniões religiosas, mas como buscadores da verdade devemos encontrar uma solução harmônica entre elas e, para isso, devemos efetuar um estudo comparativo.
As Escrituras mencionam que não devemos mudar nossa posição muito facilmente. Por exemplo, um comandante poderia dizer a seu exército: "não mudem sua posição, dêem sua vida para mantê-la". Mas quando a oportunidade vier, ele dirá: "Marchem adiante". Do mesmo modo, os "Sastras", as Escrituras, têm dito: "Seja qual for seu nascimento de acordo com o 'karma', seja qual for sua posição, não a abandone, de outra maneira existe a possibilidade de cair". Mas, ao mesmo tempo, quando uma oportunidade proveitosa surge, eles dizem: "marche até o Absoluto! Há um progresso adicional!" Assim, no Bhagavad-Gita isto é colocado: "não percas facilmente tua posição presente, adquirida por tua ação prévia, mas dê tua vida por ela", contudo Krishna vem e diz: "sarva-dharman parityajya, mam ekam saranam vraja", "quando tiver a oportunidade de marchar até o Centro, deve fazê-lo a todo custo".
Este é o método revolucionário. Há o método constitucional e o revolucionário. O método revolucionário é romper com tudo e marchar adiante, até a verdade, e devido à vida humana, de melhor oportunidade, devemos fazer o que seja necessário para isso.
Somente na vida humana tens práticamente o uso da discriminação e decisão. Se perderes esta posição, indo à vida animal ou vegetal, não sabes quando poderás de novo regressar e ser capaz de tomar uma decisão voluntária e independente. Em consequência, esta vida humana é o mais importente e não deves consumi-la em práticas da vida animal: "ahara", "nidra", "bhaya", "maithuna", comer, dormir, ficar apreensivo a cada instante e ter prazer sensual, porque isto se pode obter em qualquer parte. Se te convertes em um animal ou vais a algum outro lado, transformando-se em um pássaro, um mamífero, um inseto, etc., obterás todos estes desfrutes, porém o cultivo da tua alma, da religião, da tua correta função, essa oportunidade não obterás em nenhum outro lugar, senão sob a forma humana de vida. Na companhia dos santos a posição real pode ser discutida, desta forma poderás progredir em tua vida e salvar-te a ti mesmo. Mas se, tendo recebido um nascimento humano, perdes esta oportunidade, estás cometendo suicídio ou algo mais que isso! Comete suicídio quem, tendo recebido a oportunidade de um nascimento humano, não busca ajudar a si mesmo apropriadamente, fazendo o possível por sua satisfação completa.

Nenhum comentário: