
Aproxima-se a Páscoa.
Páscoa: Instantâneamente nos vêm ao pensamento imagens de coelhos e ovos de chocolate, colombas, e lembramo-nos daquela deliciosa bacalhoada da sexta-feira. Muito, muito bom!
Se nos lembramos porventura dos fundamentos da data, é muito pouco, quase sempre sem qualquer aprofundamento. Dizemos automaticamente, sem pensar: na Páscoa comemoramos a ressurreição de Cristo. E pronto, vamos comer o chocolate, ora!
Comemoramos a ressurreição de Cristo. Frase singela. Que quer dizer, afinal?
Primeiro, e isto é fundamental, COMEMORAMOS. Comemorar é celebrar em conjunto, socialmente, entre nós. Ninguém co-memora sózinho. E ninguém nunca comemorou com um desafeto. Só com AMOR podemos comemorar.
Segundo, comemoramos uma RESSURREIÇÃO. O que é isto? É de comer? Ou é um mistério que mereceria um mínimo de atenção da nossa parte?
Venho observando que mesmo entre os padres tem havido uma velada linguagem que nega a ressurreição. Fala-se de quem morre, que ele será eterno em nossas lembranças...(ou seja, ele mesmo, o morto em si, não será eterno, a eternidade virou uma abstração poética).
Ao certo não é essa a fé dos primeiros apóstolos. Tenho a impressão de que eles viram e tocaram Jesus MESMO. Eles realmente acreditaram que seu mestre, depois de morto, ressuscitou de fato. Eu não acredito que eles tenham enfrentado a morte por decapitação (São Paulo), na cruz de cabeça para baixo (São Pedro e os demais) ou na arena de leões (muitos, muitos outros) em nome de uma abstração poética.
Eu, pessoalmente, não obstante ser espírita cristão, ainda assim creio que, no caso específico de Jesus, a ressurreição talvez tenha ocorrido da forma como relatada nos evangelhos, dada a especificidade dos planos de Deus naquele momento (o espírita normalmente crê que a ressurreição se deu através de um corpo menos denso, que é o que acontece normalmente, de acordo com as leis da natureza). Os homens na época não estavam preparados para o conhecimento mais profundo das leis espirituais, por isso Deus deve ter mesmo feito Jesus ressuscitar com o corpo físico, para convencê-los.
Negar que Jesus possa ter ressuscitado seria negar que o tenha feito com Lázaro e pô-lo na conta de um charlatão. Como charlatanice e sabedoria não se coadunam, e sábio Jesus era sem dúvida alguma, prefiro acreditar que ele ressuscitou Lázaro.
Comemoramos, por fim, a ressurreição de CRISTO. Que é um cristo? É o UNGIDO. Ser ungido significa receber uma marca, no caso, a MARCA DE DEUS. Jesus foi marcado por Deus para nos trazer o Evangelho, ou boa-nova, como se diz. Mas qual é essa boa-nova, afinal?
A boa-nova é que não estamos sós, nem abandonados. Temos um Pai que nos ama e nos ensina, passo a passo, a crescer, não para a morte, mas para a VIDA. A boa-nova é que a morte só existe dentro de nós mesmos, como a escuridão só existe para quem fecha os olhos. A boa-nova é que por maior seja o sofrimento, nos virá a recompensa, que é a VIDA ETERNA.
Viver eternamente, diga-se, não é poder assistir o Big Brother 2.354.999.241. Nem é seguir perpetuamente tendo dor de dente, unha encravada ou tomando a cervejinha nos finais de semana. Viver eternamente é encontrar em si mesmo e no convívio com os demais (por isso COMEMORAMOS), a dimensão divina de ser humano. Somos criaturas de Deus, que é nosso Pai, e dEle herdamos a capacidade de CRIAR. Já vimos fazendo no âmbito material, e agora em assustadora velocidade. Falta-nos fazê-lo no âmbito moral, onde engatinhamos. Sequer o básico “amai-vos uns aos outros” conseguimos fazer direito.
A Páscoa, portanto, no meu entendimento, é para isto: lembrar-nos de Jesus que se sacrificou para que conhecêssemos sua mensagem e lembrar-nos essa mensagem mesma, para que não se perca nos recônditos da história e fique VIVA em nossos corações e atitudes.
Só sabe o verdadeiro sentido da Pácoa a criança que, ao invés de comer o ovo de chocolate sózinha, trata de reparti-lo com os irmãos, os pais e todos os presentes. Já vi um menino que fez isso, de forma espontânea, sem quase lhe restar um só pedaço. Mas isto é raro.
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