sábado, 15 de março de 2008

SOBRE O COMPUTADOR...

Sou da geração que trata a informática como um homem desce às profundezas do oceano: de escafandro, desajeitadamente, sem nada conhecer. Nós que despontamos no alvorecer dos anos 60 (século passado!), as “novidades” introduzidas pelo biliárdário Bill Gates são uma monstruosidade inconcebível, coisa de marciano embriagado.
Sob a ótica pré-histórica em que me situo, portanto, ouso tecer algumas considerações a respeito. Procurarei não ser muito prolixo, pois percebo que internautas não gostam de muitas palavras, aliás, nem gostam de palavras inteiras, preferem “ok”, “oie”, “bjs”, “abço”, etc. , algo mais condizente com a rapidez dos bits, megabytes e gigabytes envolvidos no processo.
Tenho a impressão de que logo, logo, após o parto, o chamado “teste do pézinho” será substituído pelo mais necessário “teste da digitação”. A criançada está “expert” no negócio. Entram em tudo que é site, mexem como querem no computador, fazem e desfazem. O problema, a meu ver, é que os pais dessa criançada não entendem lhufas de informática e 90% não sabe sequer pesquisar o histórico de sites visitados.
No “nosso tempo” (refiro-me a mim e demais velhinhos dos anos 60), papai, mamãe, titio e titia contavam estorinhas com “moral da história”, a gente perguntava qual era, nos era explicado e assim nossa educação ia sendo feita. A gente brincava de soltar pipa, jogar bolinha de gude, “jankei-pô”, jogava xadrez, aqueles outros joguinhos dos brinquedos Estrela, etc.
Nos tempos atuais a petizada fica digitando não sei o que, visitando não sei qual site e está mais esperta do que nunca. Eu, quando estava com dez anos de idade, se fosse colocado perto de uma criança de mesma idade dos tempos atuais, seria posto na conta de um perfeito retardado.
A minha pergunta é: será que, a essa criança espertíssima dos tempos atuais, não faltará, em seu processo de amadurecimento, ter sido em algum momento uma “retardada” como eu era? Será que a falta do lúdico do “crie você mesmo” próprio de montar uma pipa ou acertar uma bolinha “de verdade” em outra, ou a disciplina de escutar dos mais velhos estórias, perguntar e ter a resposta, não criará uma lacuna em sua personalidade, que lhes seria prejudicial?
Só o tempo dirá.
Assusta-me, contudo, o fato de que muitas vezes "passeando" a esmo pela Internet, inadvertidamente encontro sites impróprios, mesmo sem que os tenha buscado. Creio que uma criança os encontrará do mesmo modo, neles se demorará em razão da curiosidade, e sua formação poderá ser afetada em poucos minutos. Acrescente-se à receita a lamentável liberalidade que se verifica nos pais atualmente, quero crer que por excessivamente atarefados, e poderemos deduzir o resultado.
Não pugno pelo moralismo exacerbado, creio mesmo que a Internet é o instrumento mais democrático de mídia que possa existir, e não sou eu – um democrata convicto – que vai sugerir aquela porcaria sofrida no golpe militar de 64 (tenho nojo até de proferir a palavra: "censura"... argh!).
Digo, sim, que a par de uma maior consciência de pais e educadores, tanto tecnica como legalmente devem ser criados instrumentos capazes de afastar as crianças do exercício prematuro dessa democracia, pois para apreciar e julgar conteúdos diversos a mente deve estar suficientemente amadurecida para tanto.
Posso parecer antiquado, mas nada, absolutamente nada substitui, na mão da criança, um palpável e singelo livro de Monteiro Lobato.

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