quinta-feira, 21 de abril de 2011

DOCE LAR

CAPÍTULO UM

A NATUREZA DO SUPREMO

Por favor, escute atentamente o que vou dizer. De um modo científico, explicarei o tópico em um sentido geral, independentemente de todas as concepções religiosas.
Primeiro, devemos entender que existem três planos de vida: do desfrute mundano, da renúncia e da dedicação. O plano de desfrute é onde nos encontramos atualmente, mais ou menos. Desfrute mundano significa exploração, e sem esta, nada pode existir neste plano.
ahastani sahastanam, apadani catuspadam
laghuni tatra mahatam, jivo jivasya jivanam
"Aqueles que tem mãos vivem dos que não as tem. Os animais quadrúpedes vivem das ervas, videiras, etc. e o grande vive do pequeno". Tudo está cheio de vida: as videiras, as ervas e as árvores também têm vida, mas sem exploração nada pode manter seu corpo aqui.
Este é o plano da exploração e, como a terceira lei de Newton diz, "para toda ação existe uma reação igual e contrária", por meio da exploração, um toma de empréstimo e para resgatar essa dívida tem que cair. Deste modo, existem múltiplas jivas (almas) subindo e caindo devido à ação e reação do plano da exploração. A sociedade busca explorar ao máximo, em todas as partes há o esforço de viver às custas de outros. Sem isto, a vida é impossível neste lugar, pois este é o plano da exploração.
Os budistas, jainistas, os seguidores de Sankara e muitos outros estão tentando sair deste esquema de exploração e encontrar uma vida onde não exista a exploração, sem ação nem reação. Para evitar a ação e reação, eles tentam obter uma posição de renúncia e, assim, eles chegam a uma concepção semelhante ao sono sem sono, o "samadhi", que é retirar-se completamente do mundo objetivo e permanecer no plano subjetivo. Sem permitir que seus sentimentos se movam no plano inferior, eles sempre mantêm uma posição subjetiva, e isso é algo semelhante a dormir sem sonhar.
Os vaishnavas, que servem à Suprema Personalidade de Deus, são de opinião de que há outro mundo, o mundo da dedicação. Esta dedicação é exatamente o oposto da exploração. No plano mundano, cada unidade quer explorar o meio-ambiente, mas no plano da dedicação, toda unidade quer servir ao meio-ambiente: e não só ao meio-ambiente, pois a verdadeira chave para a vida nesse plano é servir ao Centro. Vivemos em um todo-orgânico, assim todo ponto deve existir, na verdade, para o Centro orgânico. A explicação é dada no Srimad-Bhagavatam com a analogia de servir à raiz de uma árvore:
yatha taror mula-nisecanena, trpyanti tat-skandha-bhujopasakhah
pranopaharac ca yathendriyanas, tathalva sarvarhanam acyutejya
Srimad-Bhagavatam 4.31.14
Na literatura védica também está dito: "trate de encontrar a Esse, a quem por conhecê-Lo, todas as coisas são conhecidas".
yasmina jñate sarvamidm, vijñatam bhavati
yasmina prapte sarvamidam, praptam bhavati
tad vijijñasasva tadeva brahma

Existe um ponto central que, ao conhecê-lo, tudo é conhecido e por obtê-lo, tudo é obtido. A essência, a substância de todo conselho védico é procurar esse Centro. Em consequência, busque esse Centro. No começo alguém pode pensar que esta é uma idéia ridícula: "Por conhecê-lo, tudo é conhecido, por obtê-lo, tudo é obtido... que é isso? Só um louco poderia dizer tal coisa!"
Há uma analogia no Srimad-Bhagavatam: Quando colocamos água nas raízes de uma árvore, a árvore inteira se alimenta e, se colocamos comida no estômago, o corpo inteiro é alimentado.Do mesmo modo, se prestamos serviço para o Centro, tudo é servido. Isto é possível e fazer isso significa entrar no plano da dedicação. Evitando o plano da exploração e também o da renúncia, procure entrar no plano da dedicação. Sua atma, sua alma propriamente dita, é um membro desse plano. Esse é o mundo real, enquanto que este, no qual estamos, é um reflexo pervertido.
O mundo real é onde toda unidade está se dedicando completamente ao todo, representado pelo Centro, tal como em um corpo saudável cada célula trabalha para o benefício do corpo inteiro. Se uma célula trabalha para si mesma, ela explora ao extremo e referido trabalho local, por um interesse local, é realmente danoso. Cada parte do corpo e assim cada célula deve trabalhar para o benefício do sistema inteiro. Ali está o Centro, e por sua orientação se deve trabalhar.
Qual é a posição do Centro? Esta é mencionada no Bhagavad-Gita.
sarva-dharman parityajya, mam ekam saranam vraja
Bhagavad-Gita 18.66
Krishna explica Sua posição: "Abandona todos os dharmas (deveres) e somente se renda a Mim".
Agora desejo representar este conceito de outro ponto de vista. Hegel era um bom filósofo alemão e sua filosofia é conhecida como perfeccionismo. Ele transmitiu uma idéia: A Verdade Absoluta, a Causa Primordial de todas as causas, deve ter duas qualidades. Quais são? Estas devem ser: "Por si mesma e para si mesma".
Por favor, prestem atenção. Por si mesmo significa que Ele é Sua própria causa, nada O criou. Se algo O tivesse criado, esse criador teria a importância primária. Em consequência, para ser o Absoluto, Ele deve ser anadl, eternamente existente e não criado por alguma outra coisa. O Absoluto deve ter esta qualidade.
A qualidade seguinte é que a Verdade Absoluta é para si mesma. Ele existe para sua própria satisfação, não para satisfazer nada mais. Se sua existência fosse para satisfazer a outra entidade, então Ele seria secundário e aquele para cuja satisfação Ele está vivendo, teria a posição primária.
Em consequência, o Absoluto deve ter estas duas qualificações: Ele é Sua própria causa e Ele existe somente para satisfazer a Si mesmo, para satisfazer Seu próprio propósito. O Absoluto é por si mesmo e para si mesmo.
Se uma palha se move é para realizar o propósito do Absoluto. Tudo, qualquer incidente e qualquer coisa que aconteça, deve ser para a Sua satisfação. Assim a verdadeira corrente é Sua lila, seus passatempos; mas nós estamos orientados por um interesse separado: o interesse familiar, o nacional, o social, o humanitarismo, etc.. Mas na consideração infinita tudo isto é somente uma parte minúscula e todos estamos ocupados em atuar para referido interesse separado. Existe um choque entre inumeráveis interesses separados e por isso existem dificuldades. Mas devemos abandonar nossos assim chamados interesses especiais, sair do falso conceito e buscar obter a função de uma unidade ativa para a causa do Todo.
A conclusão do Bhagavad-Gita dada por Krishna é sarva-dharmam parityajya. "Abandona todos os deveres que atualmente pensas que deves executar" y, mam ekam saranam vraja "rende-te a Meus pés". Aham tvam sarva-papebhyo, moksa yisyami ma sucah, "Eu te liberarei de todos os problemas que podes conceber".
Em outras palavras, deve lembrar de ser leal ao Centro. Atualmente seus deveres respectivos são por um interesse local, mas abandone essa identificação local de seu próprio interesse e absorva-se totalmente no interesse do todo-orgânico.
Vemos que se um oficial de polícia pega para si mesmo três rúpias, visando o próprio interesse, é castigado, mas se ele mata a muitos para o interesse do país, é recompensado. Da mesma forma, qualquer coisa feita para a satisfação do Todo é boa, mas se fizer algo para si mesmo ou para algum amigo, será castigado. Em uma indústria, não temos direito de aceitar suborno para nosso propósito pessoal, ao mesmo tempo não temos direito de entrar em greve, parar a produção, porque então a indústria seria destruída.
Não são aceitáveis nem a exploração, nem a renúncia. A exploração é realmente danosa e, pela mesma razão pela qual não temos direito de entrar em greve, a renúncia também é má. Em um todo-orgânico, o interesse comum é o de que cada um deva estar dedicado ao Centro e, Centro significa o Todo. Quando colocamos comida dentro do estômago, o mesmo distribuirá esta apropriadamente a cada parte, de acordo com o necessário. Essa classe de vida é vaishnavismo. Existe um todo-orgânico e nós somos parte dele. Temos nossos deveres especiais em conexão com o Todo e essa é uma dedicação apropriada para o Todo. Nós não colocamos comida no olho, no nariz, no ouvido ou em algum outro lugar, sómente no estômago. Então esta será distribuída apropriadamente e o organismo inteiro será saudável. Todos nós somos parte do Universo inteiro e nosso dever é trabalhar para o Todo. Isto é devoção, dedicação, rendição. E como sabemos sobre isso? Recebemos ajuda das Escrituras reveladas e de muitos santos e agentes, os quais estão vindo também para este plano, para nos atrair à harmonia.
A religião da harmonia mais elevada foi oferecida por Mahaprabhu Sri Caitanyadeva, que explicou a devoção conforme as bases do Srimad-Bhagavatam, o livro conhecido como a conclusão real de todas as Escrituras reveladas. Desta maneira, Ele explicou que a energia ou poder não é o mais elevado, mas que o conhecimento é superior a este. O conhecimento pode controlar o poder e fornecer um resultado benéfico, porém o conhecimento em si, detém uma posição inferior. Acima do conhecimento se encontra o amor e o afeto; este é o mais elevado. Nem o conhecimento, nem o poder, mas somente o afeto pode nos dar realização na vida.
A misericórdia é superior à justiça. A justiça só existe onde há necessidade de leis, regras, etc., mas na esfera do Autócrata Absoluto, que é o Bem Absoluto, não existe nenhum receio dEle. Ele é o Bem Absoluto e o Bem Absoluto é amor e afeto absolutos - este é o Lar! De volta a Deus, de volta para casa. Que é o lar? É onde nos encontramos em meio a nossos entes queridos. Se para nós não importa nosso próprio benefício, então ali haverá muitos que cuidarão de nós, o meio-ambiente cuidará de nós e esse será o lar. Esse é o domínio do Absoluto e podemos entrar em Seu serviço, a posição mais elevada, e de tal modo veremos o afeto, o amor, a harmonia e a beleza que ali existe. Todas estas qualidades são semelhantes e elas constituem a natureza da Causa Primordial e o Bem. Nós devemos ir para lá.
Abusando de nosso livre-arbítrio, de algum modo decaímos, mas agora estamaos sendo chamados: "venham ao lar, regressem a Deus, regressem à casa, à posição mais elevada, à terra do Amor". Esta é, de forma geral e concisa, o resumo do que se apresenta: esta é a concepção de Krishna no Bhagavad-Gita e no Srimad-Bhagavatam e esta é a concepção oferecida por Sri Caitanyadeva. O Sri Caitanya Sarasvat Math e toda a missão Gaudiya busca ensinar apenas isso: "Veja o Centro, usa tua vida para a dedicação total pelo Centro, pois o Centro está completamente acima da justiça. O Centro é todo misericordioso, afetuoso, amoroso e belo".
A concepção supra é o fundamento geral da religião vaishnava, do Srimad Bhagavad-Gita e do Srimad-Bhagavatam, junto com os conceitos da religião. Ou seja, a exploração, a renúncia e a dedicção constituem os três planos da vida e a alma própriamente dita é um membro da terra da dedicação.
Todos são unidades dedicadas, mas de uma forma ou outra, por mal uso de seu parcial livre-arbitrio, entraram no mundo da exploração. Buda, Jaina, Paresanath e outros ajudam aqueles que querem sair daqui, sair do emaranhado da exploração, da ação e reação. Disseram que depois de se retirar, a alma pode viver feliz. Contudo, existe a possibilidade de novamente cair no mesmo emaranhado, na mesma armadilha, pois onde as almas realmente vivem livres é onde todas são unidades dedicadas. Quando as vemos em harmonia e se mantendo nesse plano, vemos que todas elas estão trabalhando para o Todo e este está representado pelo Bem Absoluto.
Estamos podendo perceber todas essas coisas e por isso o nascimento humano é muito valioso. Em conexão com os sadhus, os santos, os agentes, devemos tentar o melhor possível sair desse emaranhado e entrar na terra do amor, da dedicação e do afeto.
Há muitos livros publicados e também há muitas Escrituras antigas, as quais nos ajudam a entender de forma apropriada e mais detalhada sobre todos os aspectos ontológicos da religião.

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